Como ter o melhor dos dois mundos entre provedores de nuvem

A nuvem deixou de ser novidade há bastante tempo. Hoje, a maioria das empresas já roda parte — ou boa parte — de suas operações em cloud. O ponto de discussão mudou. A pergunta já não é mais “migrar ou não migrar para a nuvem?”, mas sim: qual estratégia de nuvem faz mais sentido para o meu negócio?

É nesse contexto que o multicloud ganha cada vez mais espaço. Não como modismo, mas como uma resposta natural à maturidade do mercado, à diversidade de serviços disponíveis e à necessidade de equilibrar inovação, custo, desempenho, segurança e governança.

Mais do que usar várias nuvens, multicloud é sobre escolher conscientemente o melhor de cada provedor, evitando amarras desnecessárias e criando arquiteturas mais resilientes. Quando bem planejado, ele permite exatamente isso: o melhor dos dois (ou mais) mundos.

Neste artigo, vamos explorar:

  • O que é multicloud e como ele se diferencia de outras abordagens

  • As principais vantagens e desafios dessa estratégia

  • Um roteiro prático para implementação

  • O papel fundamental da observabilidade, segurança e governança

  • Erros comuns e boas práticas para não transformar flexibilidade em caos

O que é Multicloud?

De forma simples, multicloud é a estratégia de utilizar mais de um provedor de nuvem pública de forma intencional. Isso pode incluir combinações como Oracle, Azure, Google Cloud, AWS, entre outros.

O ponto-chave aqui é a intencionalidade. Multicloud não é sinônimo de bagunça ou crescimento descontrolado. É uma decisão arquitetural e estratégica.

Multicloud não é o mesmo que:

  • Nuvem híbrida
    Combina nuvem pública com ambiente on-premises ou data centers privados.

  • Multi-tenant
    Refere-se ao modelo de compartilhamento de recursos dentro de um mesmo ambiente, não à estratégia entre provedores.

  • Shadow IT em cloud
    Uso de múltiplas nuvens sem governança, padrão ou visibilidade.

Multicloud bem feito é planejado, governado e mensurável.

Por que o Multicloud ganhou tanta força?

Alguns anos atrás, a recomendação era clara: escolha um grande provedor e concentre tudo nele. Hoje, esse discurso já não se sustenta da mesma forma.

Alguns fatores explicam essa virada:

  • A especialização dos provedores

  • A maturidade das ferramentas de automação e observabilidade

  • A pressão por redução de custos e lock-in

  • Exigências regulatórias e de soberania de dados

  • A busca por maior resiliência e disponibilidade

O mercado percebeu que nenhum provedor é imbatível em tudo. Cada um tem seus pontos fortes e é justamente aí que mora a oportunidade.

Vantagens do Multicloud: o melhor dos dois mundos

Quando bem implementado, o multicloud deixa de ser um risco e passa a ser uma vantagem competitiva real.

1. Escolher o melhor serviço para cada workload

Nem todo sistema tem as mesmas necessidades. Em um cenário multicloud, você pode:

  • Usar um provedor com forte oferta de IA e machine learning

  • Outro com bancos de dados gerenciados mais maduros

  • Outro com melhor custo para workloads previsíveis

  • Outro com presença regional estratégica

Isso permite arquiteturas mais eficientes e alinhadas ao negócio.

2. Redução de vendor lock-in

Dependência excessiva de um único fornecedor pode gerar:

  • Custos crescentes

  • Limitação de inovação

  • Pouco poder de negociação

O multicloud reduz esse risco ao:

  • Incentivar padrões abertos

  • Estimular uso de infraestrutura como código

  • Forçar decisões arquiteturais mais portáveis

3. Maior resiliência e disponibilidade

Com múltiplos provedores, é possível:

  • Criar estratégias de disaster recovery entre nuvens

  • Minimizar impacto de falhas regionais ou globais

  • Aumentar tolerância a incidentes de larga escala

4. Otimização de custos

Embora não seja automático, o multicloud bem governado permite:

  • Comparar preços entre serviços semelhantes

  • Aproveitar modelos de billing diferentes

  • Evitar pagar caro por serviços subutilizados

Aqui, FinOps é indispensável.

5. Compliance e soberania de dados

Alguns dados precisam:

  • Permanecer em regiões específicas

  • Atender regulações locais

  • Seguir requisitos setoriais

Multicloud facilita esse posicionamento estratégico.

6. Aceleração da inovação

Acesso ao melhor de cada ecossistema significa:

  • Time mais produtivo

  • Menos limitações técnicas

  • Mais espaço para experimentar e inovar

Os desafios reais do Multicloud

Apesar das vantagens, multicloud não é trivial. Ignorar os desafios é o caminho mais curto para o fracasso.

1. Complexidade operacional

Cada provedor tem:

  • Console próprio

  • APIs diferentes

  • Serviços com comportamentos distintos

Sem padronização, isso vira caos rapidamente.

2. Segurança distribuída

Mais ambientes significam:

  • Mais superfícies de ataque

  • Múltiplos modelos de IAM

  • Políticas inconsistentes

Sem identidade federada e governança clara, o risco cresce.

3. Observabilidade fragmentada

Um dos maiores problemas em ambientes multicloud é:

  • Logs espalhados

  • Métricas em ferramentas diferentes

  • Dificuldade de correlacionar incidentes

Sem observabilidade unificada, você perde visibilidade e controle.

4. Gestão de custos (FinOps)

Custos invisíveis são comuns quando:

  • Não há tagging padrão

  • Times consomem recursos sem visibilidade

  • Não existe accountability

5. Data gravity e latência

Mover dados entre nuvens pode ser:

  • Caro

  • Lento

  • Complexo

Nem tudo deve ser distribuído. Arquitetura importa.

6. Pessoas e cultura

Multicloud exige:

  • Times mais maduros

  • Documentação clara

  • Treinamento contínuo

Sem isso, a estratégia não se sustenta.

Como implementar Multicloud: um roteiro prático

Aqui está um passo a passo realista, focado em reduzir riscos e aumentar previsibilidade.

1. Comece pelo negócio, não pela tecnologia

Defina claramente:

  • Objetivos da estratégia multicloud

  • KPIs de sucesso

  • Critérios de decisão

Exemplos:

  • Reduzir custos?

  • Aumentar resiliência?

  • Atender compliance?

2. Classifique seus workloads

Nem tudo precisa ser multicloud.

Classifique por:

  • Criticidade

  • Sensibilidade a latência

  • Requisitos de compliance

  • Custo operacional

3. Escolha um workload piloto (PoC)

Evite começar grande.

Escolha:

  • Um sistema não crítico

  • Com valor claro

  • Fácil de medir resultados

4. Padronize com Infraestrutura como Código (IaC)

IaC é obrigatório em multicloud.

Benefícios:

  • Reprodutibilidade

  • Menos erro humano

  • Ambientes consistentes

Ferramentas comuns:

  • Terraform

  • Ansible

5. Planeje networking e conectividade

Avalie:

  • VPNs

  • Peering entre nuvens

  • Latência entre regiões

  • Custos de tráfego

6. Implemente observabilidade unificada

Centralize:

  • Logs

  • Métricas

  • Traces

Boas práticas:

  • Uso de OpenTelemetry

  • Dashboards unificados

  • Alertas baseados em SLOs

Observabilidade é o que transforma multicloud em algo gerenciável.

7. Defina uma estratégia de segurança e identidade

Inclua:

  • IAM federado

  • Princípio do menor privilégio

  • Criptografia por padrão

  • Auditoria contínua

8. Estruture FinOps desde o início

Implemente:

  • Tags obrigatórias

  • Orçamentos e alertas

  • Showback ou chargeback

  • Revisões periódicas de custo

9. Automatize CI/CD e operações

Pipelines devem ser:

  • Portáveis

  • Reprodutíveis

  • Integrados à governança

10. Teste backup e disaster recovery

Não basta ter DR. É preciso testar:

  • RTO

  • RPO

  • Processos de recuperação

11. Capacite pessoas e documente tudo

Multicloud falha quando:

  • O conhecimento fica em poucas pessoas

  • Não há runbooks

  • Não existe cultura de melhoria contínua

Observabilidade: o pilar invisível do Multicloud

Se existe um elemento que separa o multicloud saudável do problemático, é a observabilidade.

Ela permite:

  • Enxergar o ambiente como um todo

  • Correlacionar eventos entre nuvens

  • Reduzir MTTR

  • Tomar decisões baseadas em dados

Sem observabilidade:

  • Incidentes demoram mais

  • Custos fogem do controle

  • A experiência do usuário sofre

Erros comuns e antipadrões

Evite:

  • Multicloud sem governança

  • Copiar arquiteturas sem adaptação

  • Ferramentas diferentes para cada nuvem sem integração

  • Ignorar custos de tráfego entre clouds

  • Tratar multicloud como solução para todos os problemas

Conclusão: Multicloud é estratégia, não destino

Multicloud não é sobre usar muitas nuvens.

É sobre usar as nuvens certas, da forma certa, para os objetivos certos.

Quando bem planejado, ele permite:

  • Mais liberdade

  • Mais resiliência

  • Mais inovação

Mas isso só acontece com:

  • Governança

  • Automação

  • Observabilidade

  • Pessoas preparadas

No fim das contas, multicloud é exatamente isso: transformar complexidade em escolha consciente e visibilidade em vantagem competitiva.

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